Arquivologia

Introdução ao Estudo dos Arquivos


1 - Origem


Há dúvidas quanto à origem do termo arquivo. Alguns afirmam ter surgido na antiga Grécia, com a denominação arché, atribuída ao palácio dos magistrados. Daí evoluiu para archeion, local e depósito dos documentos.
Ramiz Galvão (1909) o considera procedente de archivum, palavra de origem latina, que no sentido antigo identifica o lugar de guarda de documentos e outros títulos.

2 - Conceito

As definições antigas acentuavam o aspecto legal dos arquivos, como depósitos de documentos e papéis de qualquer espécie, tendo sempre relação com os direitos das instituições ou indivíduos. Os documentos serviam apenas para estabelecer ou reivindicar direitos. Quando não atendiam mais a esta exigência, eram transferidos para museus e bibliotecas. Surgiu daí a ideia de arquivo administrativo e arquivo histórico
Quanto à conceituação moderna, Solon Buck, ex-arquivista dos EUA - título que corresponde ao de diretor-geral de nosso Arquivo Nacional - assim o definiu: "Arquivo é o conjunto de documentos oficialmente produzidos e recebidos por um governo, organização ou firma, no decorrer de suas atividades, arquivados e conservados por si e seus sucessores para efeitos futuros" (Souza, 1950).

("Arquivo: Teoria e Prática". Marilena Leite Paes, 3ª ed. pág. 19, FGV: Rio de Janeiro, 2009)

Profissão: A Arte de ser Arquivista*
Professor Vanderlei Batista dos Santos fala sobre a profissão e sobre a área de trabalho para o Arquivista

Arquivologia, Arquivista ou Arquivólogo?

Antes de mais nada cabe questíonar: arquivista, arquivologista ou arquivólogo? Independente das questões relativas à derivação da nomenclatura profissional a partir da área de estudos, o fato é que a Lei nº 6.546 de 4 de julho de 1978 que regulamenta a profissão do arquivista, afirma que o seu exercício só será permitido aos diplomados em curso superior em Arquivologia. Portanto, em termos legais, a nomenclatura correta para o graduado em Arquivologia é "arquivista".
A Arquivologia é uma área que durante muito tempo foi identificada como uma área subordinada a História, visto que tinha como objetivo a preservação das informações históricas ou permanentes. Com o passar dos anos, percebeu-se que a ação que é realizada sobre os arquivos em sua fase de produção e tramitação refletem diretamente na capacidade de garantir que os documentos que devem ser guardados para sempre consigam "sobreviver" até chegar aos arquivos públicos.

A Arquivologia na Atualidade

Na atualidade observa-se uma Arquivística mais voltada para o apoio administrativo, cujas técnicas visam organizar informações que possam dar suporte à tomada de decisão das pessoas que lidam dia a dia com a informação e necessitam recuperá-la sem demora. Neste escopo, vem ocorrendo o que se denomina no meio acadêmico de mudança do foco da Arquivologia para uma visão pós-custodial, ou seja, a guarda documental está deixando de ser prioridade para os profissionais, sendo substituída pela garantia de acesso às informações institucionais.
A aceitação da narração que acabo de fazer não é uma unanimidade entre os profissionais da área. Deve-se registrar que a documentação física não perdeu sua importância, apenas passou a dividir o interesse dos arquivistas com o uso da informação. A Arquivística tem como seu objetivo essencial a concessão de acesso: ao administrador e ao pesquisador em geral (cidadãos, historiadores, etc.). Com esse prisma busca que o senso comum abandone de vez o esteriótipo de arquivistas trabalhando em grandes depósitos de documentos, cheios de poeira, numa área para onde se envia os profissionais que não são desejados em outras repartições. Esta escolha visa ampliar a visão mediata, que contempla os documentos que servem para contar a história dos cidadãos, instituições, cidades e países, incorporando um aspecto de uso imediato, em que os arquivos são, também, entendidos como um recurso estratégico de informações institucionais essenciais à tomada de decisão pelos gerentes e demais servidores ou empregados da instituição.

O papel do Arquivista

Há algum tempo foi discutido em inúmeros eventos qual seria o papel do arquivista numa sociedade da informação em que se sonha um escritório sem papel. A profissão acabaria, dando lugar à informática. Tão rápida quanto surgiu, esta dúvida foi abandonada pelos profissionais, mundo afora. Mais do que antes, o que ocorreu é que isto fortaleceu o papel dos arquivistas, responsáveis pela sistematização, classificação e definição de formas de descrição e acesso às informações acumuladas pelas instituições. Se antes, acumular papel sem organização não impedia sua recuperação - bastava ter tempo e dinheiro para investir na busca -,quando muito se pedia prazos em demandas judiciais, atualmente, produzir documentos digitais sem uma prévia definição de políticas arquivísticas para a sua organização e, mais tarde, eliminação ou guarda permanente pode implicar na simples perda da informação, por seu "apagamento", aí incluído, obsolenscência tecnológica (softwere, hadware e formatos), a gravação em lugares inadequados (pendrive, disquetes magnéticos sem proteção de gravação, etc.) ou ainda, pelo simples uso da tecla "del".

A área de atuação do Arquivista

O campo de trabalho para o Arquivista é amplo e cada vez mais demanda profissionais com formação adequada à constante evolução do tratamento das informações institucionais. Pode-se trabalhar nas equipes de gestão do conhecimento, na estruturação de requisitos para sistemas de informação e de gestão de documentos, programas de segurança da informação, atendimento à solicitação de documentos e informações, criação de taxonomias e vocabulário controlados, estudos quanto a possibilidade legal de eliminação de documentos, microfilmagens e digitalização, uso de certificação digital, acesso a documentos e respeito à honra e imagem das pessoas e garantias relativas ao direito autoral, são algumas das áreas de atuação do arquivista.
Este profissional também pode atuar junto aos acervos históricos e instituições arquivísticas publicas, participando de sistemas de arquivos municipais, estaduaise até nacional, orientando quanto às regras de tratamento de informação, realizando cursos de capacitação para gestão de documentos, analisando e dando pareceres quanto à elaboração de planos de classificação, trabalhando com metodologias e normatizações de descrição de acervo, desenvolvendo políticas de divulgação de acervo, elaborando projetos de exposições temáticas fixas e intinerantes. Também pode atuar como transcritor de documentos antigos por meio de investimento em uma formação em Paleografia, entre muitas outras atribuições.

Os aspectos negativos da profissão

Nem tudo são flores. O principal aspecto negativo da profissão é seu desconhecimento por outros profissionais. O bacharelado em Arquivologia, obviamente porque alguns dos leitores devem estar lendo esta palavra pela primeira vez neste texto, não possui tradição no país e é, ainda, considerado um curso de segunda linha. Quando comparada com profissões consagradas como médico, odontólogo, engenheiro, etc. o reconhecimento do arquivista é mínimo. Todavia este fato pode ser um ponto positivo quando se considera a reduzida concorrência nos vestibulares.
Observe que neste texto foi tratado apenas o escopo do trabalho profissional junto às demandas informacionais das instituições e dos cidadãos. O arquivista também pode enveredar pelo campo da pesquisa acadêmica e científica que possibilite o desenvolvimento da teoria e das práticas arquívísticas, bem como atuar como professor nos cursos de graduação em Arquivologia, após a conclusão de um curso de mestrado.

Vanderlei Batista dos Santos: Graduado em Arquivologia, mestre em Ciência da Informação e, atualmente, cursa o Doutorado em Ciência da Informação na Universidade de Brasília - Distrito Federal. Ao escrever para o "Saber Social Conexões", Vanderlei revelou que descobriu a Arquivologia quando tentava sair da área de auxiliar de escritório atuando junto às áreas de finanças, pessoal, material e patrimônio. A escolha pelo curso deveu-se a vários aspectos, segundo Vanderlei: "1- era um curso noturno e eu tinha necessidade de continuar trabalhando no período diurno; 2- pertencia a área de Humanas, pela qual me sentia mais atraído; 3- possibilidade de trabalhar com documentos e textos antigos e históricos. Outras duas justificativas surgiram após o primeiro semestre. A Arquivologia era (é) uma área em desenvolvimento, havendo espaço para novos teóricos e novas pesquisas aparecerem e, em consequência disso, e da Lei nº 8.159/91, havia uma espectativa de ampliação do mercado de trabalho e, ainda, poucos profissionais capacitados a ocupar essas vagas".
(*) Texto publicado no informativo "Saber Social Conexões", Ano I, nº 02 Ago/Set. 2008